Psicologia do Esporte: Chantagem

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Chantagem

"Tenho um aluno que pratica futsal muito bem, mas quando seu time está perdendo, ele começa a xingar os colegas, diz que vai deixar entrar os gols, chora, não quer sair de dentro da quadra para ser substituído, enfim, é chantagista". O que fazer? Ceder a chantagens no esporte é sempre um risco. É a mãe que vai tirar o filho da equipe de futebol se ele não for escalado, o nadador talentoso que só treina bem se tiver uma raia só para ele ou o tenista que só quer participar de torneio que oferece camiseta com a malha "dry fit", bolas novas e árbitro em todos os jogos. Nem sempre é possível negar, radicalmente, as solicitações dos atletas, mas deve-se atentar para as conseqüencias de fazer TUDO o que eles e seus pais solicitam. No caso relatado acima, a chantagem é ainda mais difícil de manejar. Ela começa com "se eu não ganhar... " e segue com as opções: desisto de vez prejudico minha equipe deixando passar os gols vou esculhambar chuto o pau da barraca A dificuldade está na impossibilidade de realizar a tarefa da primeira frase. Como fazer a equipe do garoto ganhar? Pelo relato acima, pode-se perceber que o garoto em questão está muito bem preparado tecnicamente para enfrentar uma competição, mas seu estado emocional deixa a desejar. Não se sabe aqui a idade do atleta. Se for muito jovem, é importante deixá-lo sem competir por um tempo, não como castigo ou punição, mas para que se prepare ou amadureça o suficiente a ponto de suportar uma derrota. Essa decisão será questionada pelo atleta e - especialmente - por seus pais. Deve-se justificá-la levando em consideração o bem-estar do próprio jogador e também da equipe, já que sua suposta atitude de "deixar entrar gols" prejudicaria todo o grupo, especialmente no aspecto das interações sociais. É aconselhável comunicar aos pais antes de tomar essa atitude, pois dessa forma a probabilidade de que aceitem a decisão é um pouco maior. Se o garoto for mais velho, deve-se envolvê-lo em um raciocínio lógico. Geralmente tem-se bons resultados quando se utiliza ídolos do esporte como modelo. Sugere-se perguntar ao garoto o que esse ídolo costuma fazer quando está perdendo, se ele já viu algum grande jogador ter o comportamente que ele tem. Dizer que os jogadores talentosos - como ele - ficam pelo caminho quando não se controlam em quadra, pode ser uma opção. Outro ponto a trabalhar é o relacionamento com o grupo, fazer o atleta perceber a situação dos companheiros de equipe quando ele decide não dar o máximo para ajudá-los nesse momento difícil. O que acha que eles pensaram/sentiram quando o ele emitiu esse comportamento? O garoto deve perceber que ganhar e perder são coisas do esporte. Todo atleta perde um dia (nessa hora é bom dar exemplos) e se ele não está preparado para isso, não deve seguir no esporte, mesmo sendo talentoso. Alguns técnicos temem afastar um bom jogador com medo de perder uma partida, ou temendo que ele venha a abandonar o esporte, ou pior, ir jogar em outro clube. É um risco que se corre, mas tudo depende da maneira como a conversa se dá. Falar com o atleta aos gritos só funciona com Bernardinho. É preciso que o técnico também se controle, ou não poderá cobrar atitudes serenas dos seus atletas.